Praça Princesa Isabel: Estado e iniciativa privada na expropriação do espaço pelo capital

Em maio de 2017, após uma desastrosa operação de marketing policial coordenada pelo então prefeito João Dória, o fluxo maior da cracolândia se desloca para a Praça Princesa Isabel, localizada a 2 quarteirões do antigo fluxo. Foi o suficiente para o atual governador de São Paulo cravar: “a cracolândia acabou”. No entanto, como a realidade trata rapidamente de suplantar a politicagem, boa parte dos moradores da craco foram remanejados coercitivamente ao local de origem após um mês, nas redondezas da Alameda Cleveland e Dino Bueno.

A praça, a partir de então, passa a ser a menina dos olhos da seguradora e especuladora Porto Seguro, proprietária de dezenas de imóveis na região, incluindo escritórios e um gigantesco teatro. Desde meados de 2017, a Porto investiu R$ 2 milhões na “revitalização” da praça, construindo uma quadra poliesportiva, playground, espaço para food-trucks, 16 câmeras de vigilância conectadas ao sistema de informação municipal “City Câmeras”, além de uma base fixa para a atuação da PM na área. 

Ora, nada há de novo sob o Sol, segue o processo de gentrificação pelo qual passa a região da Luz desde fins dos anos 90. O projeto da empresa pode se consolidar em um novo estágio caso a prefeitura tenha sucesso na proposta de remanejar o fluxo para uma região próxima ao Terminal Rodoviário do Tietê. 

Fecharia-se, portanto, o projeto de valorização do solo, iniciado ainda em 1974, quando a empresa instala seus primeiros escritórios na região. [1] Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, Fabio Luchetti, presidente da Porto, deixa transparecer a relação de cumplicidade no espólio: “sempre que há troca de prefeitura, como somos muito atuantes na região, eles sempre vêm conversar sobre a situação do bairro, e o que temos dito é que estamos dispostos a ajudar”. 

O caso da região deixa transparecer a lógica por trás das gestão mercadológica do espaço. Fiquemos atentos. 

Imagem: Edilson Dantas, Jornal O Globo.